21 / 08 / 19

Conheça as rotas das frutas brasileiras

O sol começa a aparecer no horizonte do sertão pernambucano quando o avião cargueiro da empresa Cargolux pousa no Aeroporto Senador Nilo Coelho, em Petrolina, na região do Vale do São Francisco. Como se repete em todas as madrugadas das terças-feiras, o Boeing 747 – segunda maior aeronave de carga comercial do mundo – toca o solo para ser carregado com frutas produzidas na região, responsável por 95% da produção brasileira de manga e também uma das maiores de uvas. De lá, o avião segue para Luxemburgo, onde funciona o centro de distribuição de frutas para outros países europeus. Em menos de um dia, os produtos saem do pomar e chegam às mãos dos consumidores europeus – o voo que parte do Brasil dura nove horas.

São os mercados exigentes de países da Europa e da Ásia que justificam o custo logístico da exportação aérea. Para a Europa, o frete aéreo custa US$ 1 por quilo. Para Coreia e Japão, é o dobro desse valor. Os produtos são muito sensíveis e, por isso, precisam chegar com maior agilidade às prateleiras dos mercados, sem comprometer a qualidade. As temperaturas no avião são controladas durante todo o percurso.

“Mandamos constantemente para Península Ibérica, França, Coreia do Sul e Japão, e esporadicamente quando há algum desabastecimento em outros mercados”, explica Sílvio Medeiros, diretor da Agrobrás, uma das maiores produtoras e exportadoras de frutas do Vale do São Francisco. Somente em 2018 a empresa exportou 70% das 7.500 toneladas de uva e 80% das 15 mil toneladas de manga produzidas.

Dependendo da demanda, a via aérea é responsável por até 8% da exportação de frutas do Vale do São Francisco, de acordo com a Associação dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros da região (Valexport). Mas há potencial para crescer, segundo as fontes locais, inclusive para atender ao mercado brasileiro.

Além do transporte aéreo, as frutas do vale percorrem rotas pela terra e pela água para chegarem a seus destinos. A via marítima ainda é responsável pela maior parte da exportação da safra: representa cerca de 90% do total, e o Porto de Salvador é a principal porta de saída dos produtos.

Produtores de frutas no Brasil devem atingir negócios internacionais na ordem de US$ 1 bilhão este ano.

Na segunda etapa de viagens, o Caminhos da Safra percorreu o trajeto até a capital baiana, uma rota de 511 quilômetros. Para o Porto de Natal (Codern), outra alternativa de escoamento, são 921 quilômetros; para Pecém (em Fortaleza), são 834 quilômetros.

O frete de Petrolina até Salvador é de 30% a 35% mais barato em comparação com os outros portos nordestinos (R$ 4.200 por carreta refrigerada, com capacidade de 22 toneladas). As condições das estradas, BR-407 e BR-324, são boas. As rodovias são asfaltadas, mas, apesar de serem duplicadas, apenas nos 100 quilômetros finais do trajeto (entre Feira de Santana e Salvador) estão bem sinalizadas, com asfalto de boa qualidade e sem buracos.

Outro diferencial deste trecho para os caminhoneiros é a Via Expressa Baía de Todos os Santos, inaugurada em 2013, com 4,3 quilômetros de extensão, com quatro das dez faixas exclusivas para veículos de carga, que liga a BR-324 diretamente ao porto, evitando o tráfego dos caminhões por dentro da cidade e sendo, em média, 40 minutos mais rápida.

Há oito anos carregando frutas do vale até o Porto de Salvador, o caminhoneiro Ubiratan Pereira, de 47 anos, chega a fazer três viagens semanais na época da safra. A principal melhoria na infraestrutura, afirma,  foi a Via Expressa, além da modernização no sistema de recepção das cargas no porto. Nos horários de pico, trouxe uma economia de duas horas. “Apesar da imensa quantidade de quebra-molas na estrada”, o motorista diz que as viagens costumam ser bem tranquilas, sem muitos imprevistos.

Depois que o caminhão é carregado na fazenda, a cooperativa de caminhoneiros autônomos, a Cooperporto, agenda o horário de chegada ao porto. O cadastro biométrico dos motoristas também agiliza o trabalho. A operação de chegada, descarregamento e saída dos caminhões do Terminal de Contêineres de Salvador (Tecon) dura cerca de 20 minutos. O porto tem capacidade para receber até 20 veículos por hora e funciona o ano todo.

O volume de frutas produzido ao redor do “Velho Chico” e escoado pela capital baiana cresceu 126% só no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. “Durante o final do ano passado, que foi o fim da safra, muitos problemas aconteceram nos demais terminais e a regularidade aqui permaneceu. No início deste ano, a safrinha é onde se testa por onde você pretende exportar. Então a gente está tendo bastante sucesso com clientes que exportavam por outros portos. Isso nos deixa esperançosos para o segundo semestre, quando a safra real (maior) vem”, explica o gerente comercial do Tecon, Guilherme Dutra.

O Porto de Salvador foi o segundo do país – assim como Paranaguá (PR) – a receber permissão para atracar navios 366, um dos maiores do mundo. Durante todo o ano, dois navios semanais com carregamento de frutas partem para portos europeus, como Roterdã, e para o de Filadélfia, nos Estados Unidos.

No período da safra, que vai de agosto a novembro, quando a produção do vale abastece a entressafra do mundo inteiro, 500 carretas cheias de uva e manga do Vale do São Francisco pegam a estrada e vão para alguma das três portas de saída disponíveis no Nordeste ou para vizinhos sul-americanos.

A Special Fruits, especializada em produção de manga para os mercados mais exigentes, é uma das empresas responsáveis pelo abastecimento do mercado brasileiro e também de países como Argentina, Chile e Uruguai. A companhia investe no transporte próprio e tem uma frota de quatro bitrens, mais três carretas LS, fazendo a distribuição diretamente aos clientes brasileiros. Quando a carga vai para Buenos Aires (Argentina), o tempo de viagem é de 12 dias. Se for Santiago (Chile), 15 dias; e para Motevidéu (Uruguai), de dez a 11 dias. São de 750 a 800 contêineres com 25 toneladas de manga todo ano para exportação.

“O tempo que a gente ganha para mandar fruta é mais tempo de prateleira que ela vai ter”, destaca o proprietário da Special Fruits, Suemi Koshiyama. “Na época de safra, chegamos a ter até 2 mil pessoas trabalhando na Special Fruits e não se pode perder, na parte de logística, o bom desempenho obtido no campo. Então, investimos em pagar até um pouco mais de frete para mandar pelo Rio Grande do Norte ou Ceará, apostando nessa rapidez de entrega (por serem mais próximos dos mercados internacionais)”, diz Suemi.

Cerca de 60% da manga exportada pela empresa vai pelo Porto de Natal. De acordo com a Companhia das Docas do Rio Grande do Norte (Codern), 40,8% do faturamento com exportações de frutas escoadas por lá correspondem a produtos de origem do próprio Estado, enquanto a participação de Pernambuco foi de 12,7%.

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