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Marcos Jank: Impacto do acordo Mercosul-União Europeia no agronegócio será maior em regras

São Paulo – Com o comércio de produtos do agronegócio regulado por cotas de exportação e importação, o acordo entre Mercosul e União Europeia terá menos impacto no tocante ao volume e maior no que diz respeito a regras e normas. Esta é a avaliação do professor Marcos Jank, do Insper, que palestrou sobre o tema no 26º Congresso Internacional da Indústria do Trigo, que aconteceu em Campinas, de 22 a 24 de setembro.

Embora reconheça a importância do parceria comercial com a Europa, o acadêmico lembra que os principais focos globais brasileiros estão centrados na Ásia. “Há 20 anos, os europeus eram os nossos grandes compradores. Hoje, 54% das exportações do agro vão para a Ásia e só 20% para a Europa, ressalta.

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Jank destaca ainda que, apesar dos entraves internos, como custo Brasil e lentidão na assinatura de novos acordos comerciais, as exportações do agronegócio apresentaram crescimento orgânico, sobretudo dos produtos que tem menor dependência de ações do governo, o que demonstra o potencial do agronegócio nacional.

Desde o ano 2000, as vendas externas de produtos como soja, algodão e milho saíram de US$ 20 bilhões para US$ 100 bilhões. “E isso aconteceu naturalmente, sem grande esforço nosso”, diz.

No caso do trigo, que o Brasil importa, tem se verificado aumento da produtividade. Para o especialista, para que a cultura siga avançando, é necessário melhorar o nível tecnológico e a organização da cadeia produtiva, uma vez que, no geral, a agricultura brasileira é muito competitiva, e tem registrado crescimento acima de 5% ao ano para vários produtos.

O especialista em agronegócio indica também pontos como o aumento no volume de investimentos, barreiras técnicas e sanitárias como entraves à entrada de produtos vindos de outros locais. “Estamos atrasados na agenda dos acordos e continuamos com obstáculos, como o custo Brasil, impostos elevados e deficiência da máquina pública”, complementa.

Um exemplo é a Rússia, maior exportador de trigo do planeta, que enfrenta diversos obstáculos para que o grão chegue em maior quantidade ao Brasil.

Mercosul e União Europeia

Com sua exposição programada para o segundo dia do evento, o professor ressalva que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia ainda precisa ganhar fôlego e musculatura e vencer algumas resistências, como da Argentina, em especial se o vencedor das próximas eleições for Alberto Fernández, aliado da ex-presidente Cristina de Kirchner.

Do lado europeu, os obstáculos referem-se à questão da Amazônia, que refletiu na imagem brasileira, como se observou nas reações de vários governos. É preciso lembrar que o tratado, para vigorar, precisa ser aprovado pelos parlamentos de todas as nações envolvidas.

“Tecnicamente, o acordo, que demorou 20 anos, pode ter mais impacto em regras do que em comércio no tocante à agropecuária”, salienta Marcos Jank.

Por outro lado, o tratado implica uma série de regras em diversas áreas, como investimentos, barreiras técnicas e de propriedade intelectual. “Tudo isso pode impactar as relações comerciais entre os países dos dois blocos”, observa o professor, enumerando os segmentos que mais deverão beneficiar-se do tratado: “Café, açúcar, soja e carnes são alguns dos produtos do agronegócio que deverão crescer no comércio com a Europa, que já compra esses itens do Brasil. Porém, tudo dentro de certas restrições. Nas carnes, por exemplo, o mercado não está aberto. É tudo no sistema de cotas e aprovação de plantas”.

O mesmo raciocínio se aplica ao mercado do trigo, cujas importações/exportações são regidas por cotas e não por livre acesso, sendo comercializados apenas aqueles volumes previamente estabelecidos na negociação das cotas”.

Recuperando o tempo perdido

Marcos Jank lembra que o Brasil ficou para trás no contexto dos acordos bilaterais e regionais de comércio que se realizaram por numerosas nações. “Em consequência, temos sofrido há anos pela falta de acesso aos mercados”

Apesar disso, os produtos da agricultura, que não dependem tanto do governo e nem das questões do protecionismo no exterior, foram os que tiveram melhor desempenho nas exportações, explica o professor. Um exemplo é a soja em grão, que não tem barreiras. A China tornou-se uma grande compradora, aumentando ainda mais o volume a partir da guerra comercial com os Estados Unidos. No algodão, o Brasil passou a ser o segundo maior exportador mundial e será o primeiro em alguns anos. O milho, que não era muito exportado, passou a ter destaque, pois é produzido junto com a soja, no mesmo ano agrícola. Outro produto que cresce é a celulose. Açúcar e etanol também aumentaram, principalmente para países em desenvolvimento.

Itens que estão caindo nas exportações são os que têm seu consumo mundial reduzido, como o tabaco. Suco de laranja também perde espaço, ante o mercado de refrigerantes e a presença crescente de outras frutas.

Desafios do Brasil no mundo

Para o professor, o País terá de enfrentar três grandes desafios na sua inserção global, para recuperar o tempo perdido em termos de acordos comerciais: ampliar o acesso aos mercados, pois ainda existem muitas barreiras tarifárias, sanitárias, técnicas e burocráticas; melhorar a imagem do Brasil, deteriorada hoje, principalmente na Europa, devido à questão amazônica. É preciso melhorar a comunicação e o diálogo; e modernização da legislação nacional, para ganhar competitividade.

Fonte: Comex do Brasil

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