29 / 01 / 20

Exportação fica mais dependente de EUA e China

Durante a vigência do conflito entre Estados Unidos e China, as exportações brasileiras ficaram mais dependentes dos dois países que protagonizaram o conflito. Do fim de 2017 até o ano passado, a fatia das exportações brasileiras destinadas aos dois países passou de 34,2% para 41,3%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) ligada ao Ministério da Economia. A assinatura do acordo entre os chineses e americanos, segundo analistas, pode afetar os embarques brasileiros, principalmente rumo ao país asiático. Eventual impacto do surto de coronavírus na economia chinesa também pode afetar a exportação do Brasil ao país asiático num prazo maior.

Welber Barral, sócio da Barral M Jorge e ex-secretário de Comércio Exterior, diz que as exportacoes para os EUA estão praticamente estáveis nos últimos anos, com oscilações setoriais e de pouca margem. Já para a China, as exportações devem cair, principalmente a de soja e outros grãos, já que as compras chinesas tendem a ser direcionadas à produção americana.

Para Barral, pode haver impacto no preço da soja, com queda de 3% a 5% no ano em relação ao ano passado, o que também afeta o valor exportado pelo Brasil. “Esse foi o prêmio que os chineses pagaram no ano passado pela soja”, diz ele. A queda pode não chegar a esse nível, diz ele, se houver eventual má safra de grãos nos EUA. Já o surto de coronavírus, diz Barral, não deve afetar os embarques à China imediatamente, mas podem acontecer efeitos no médio prazo caso o surto desacelere a economia chinesa.

Dados da Secex mostram que o avanço dos dois países como destino das exportações brasileiras se deu mais pela China, cuja fatia cresceu seis pontos percentuais nos últimos dois anos – de 21,8% para 281% – enquanto os embarques aos americanos aumentaram quase um ponto percentual no período, de 12,3% para 13,2%.

As exportações brasileiras para a China aumentaram de US$ 47,5 bilhões em 2017 para US$ 62,9 bilhões no ano passado. As vendas aos americanos cresceram de US$ 26,9 bilhões para US$ 29,6 bilhões no mesmo período. Os embarques totais do Brasil avançaram de US$ 217,7 bilhões para US$ 224 bilhões.

O avanço das exportações brasileiras nos últimos dois anos para a China aconteceu principalmente de 2017 para 2018, quando o valor embarcado ao país asiático cresceu 35%. De 2018 para o ano passado a venda de produtos brasileiros aos chineses na verdade caiu 1,7%. A queda, porém, foi bem menor que os 6,4% de recuo das exportações agregadas do Brasil no mesmo período, o que levou a novo avanço da fatia da China entre os destinos de produtos brasileiros.

A evolução das exportações brasileiras para a China nos últimos dois anos foi influenciada principalmente por soja, petróleo e minério de ferro. De 2017 a 2019, a exportação de soja aos chineses subiu pouco, de US$ 20,3 bilhões para US$ 20,5 bilhões, mas em 2018 atingiu pico histórico de US$ 27,3 bilhões. A alta na época, segundo analistas, aconteceu em razão do conflito entre EUA e China e da quebra de safra da produção argentina.

 

 

Puxados principalmente pelo preço, os embarques de petróleo dobraram, saltando de US$ 7,4 bilhões em 2017 para US$ 15,4 bilhões no ano passado. No mesmo período, as vendas de minério de ferro aos chineses avançaram de US$ 10,4 bilhões para US$ 13,1 bilhões.

A representatividade da China e dos Estados Unidos nas exportações brasileiras é natural, já que os dois países são os grandes importadores mundiais, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), o maior importador no ranking mundial em 2018 foram os Estados Unidos, com fatia de 13,2% dos desembarques mundiais, seguidos da China, com fatia de 10,8%.

O avanço dos dois países como destino dos produtos brasileiros, diz Castro, se deu também porque a exportação brasileira oscilou no período. Ao mesmo tempo, caíram os embarques para a Argentina, importante parceiro comercial do Brasil em bens manufaturados que, em crise, perdeu o poder de compra, observa ele.  O embarque do Brasil ao país vizinho caiu de US$ 17,6 bilhões em 2017 para US$ 9,7 bilhões no ano passado, o que representou queda de participação de 8,1% para 4,3% nas exportações brasileiras do período.

Para Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o acordo entre China e Estados Unidos deve causar mudança nos fluxo de comércio. No caso do Brasil, a tendência é afetar mais as exportações brasileiras de grãos, mas o impacto pode também atingir os embarques de produtos manufaturados, já que os exportadores chineses de bens industrializados podem elevar os esforços na conquista de fatias novas no mercado internacional, inclusive na América do Sul. Ao mesmo tempo, a China pode aumentar a fatia de vendas de manufaturados ao Brasil, cujo cenário promete recuperação econômica este ano, ainda que lenta.

O que pode amenizar o cenário para as exportações brasileiras, diz ele, é a perspectiva de recuperação da economia global em relação ao ano passado. Em relatório divulgado neste mês, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima crescimento de 3,3% para 2020 e de 3,4% para 2021, após os 2,9% projetados para 2019. Apesar da leve aceleração indicada, as estimativas representam uma baixa de 0,1 ponto percentual nas projeções anteriores para 2019 e 2020 e de 0,2 ponto percentual para 2021 em relação às estimativas divulgadas em outubro do ano passado. O rebaixamento nas projeções foi creditado à incerteza em relação ao desempenho de economias emergentes, tendo a Índia como destaque.

Cagnin lembra, porém, que o Brasil vem perdendo posições como exportador bem antes da crise argentina ou do conflito entre Estados Unidos e China. O economista cita dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), cujos relatórios mostram que o Brasil perdeu cinco posições no ranking dos países exportadores, caindo da 22ª colocação em 2008 para o 27º lugar em 2018. “O retrocesso é patente e a disparidade com o tamanho de nosso economia só aumenta, pois temos o nono maior PIB do mundo.”

Fonte: Valor Econômico.

 

29 / 01 / 20

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